terça-feira, 20 de agosto de 2013

O que é que a Granta tem? “Em busca d’eus desconhecidos” de Dulce Maria Cardoso




Crescemos a pensar que somos únicos. A sociedade hedonista impulsiona-nos a celebrar a nossa individualidade, a afirmar-nos por aquilo que nos distingue. Mas Dulce Maria Cardoso levanta uma questão interessante em “Em busca d’eus desconhecidos”, o conto que abre o primeiro número da Granta Portugal, editada pela Tinta da China: será que o nosso “eu” é diferente dos outros “eus”? Ou será que camuflamos a igualdade dos “eus” nas nossas experiências próprias?

Dulce Maria Cardoso explora as fragilidades do “eu”, uma entidade que nem sequer é única em nós (com o tempo aparecerão vários “eus”), que muitas vezes se define não por características intrínsecas mas por desejos aspiracionais e que, em última análise, depende do reconhecimento dos outros.

As ideias são interessantes, o que não significa que dessem origem a um texto coeso e que criasse empatia. Podia ser apenas uma amálgama de pensamentos, que leríamos sem olhar para trás. Mas quem já leu Dulce Maria Cardoso sabe que a sua escrita não é assim, que as suas ideias se metamorfoseiam em episódios que nos são familiares, porque também os vivemos, porque conhecemos aquelas personagens, porque, no fundo, há mais a tornar-nos semelhantes do que distintos.

E na simplicidade das imagens, numa escrita dialogante em que “eus” interagem, vai-se criando uma reflexão memorável, uma excelente abertura para uma Granta que promete muito.

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