segunda-feira, 29 de julho de 2013

Em estado crítico: "GKJMA" de João Silveira




Devastação. Espaços inóspitos em que a vida já não existe. Apenas resquícios, abandonados no tempo, destruídos e imóveis. Assim é a atmosfera criada por João Silveira em “GKJMA”. 

Sempre no Japão, entre Gunkanjima, a abandonada ilha com a forma de um navio de guerra, outrora habitada sobretudo por famílias de mineiros, e Aokigahara, a famosa floresta dos suicídios, um personagem sem nome remói recordações incómodas de um tempo que se perdeu. 

Numa escrita em prosa, mas incapaz de não ser poética, entre episódios que afloram à memória e que se confrontam com um hino heroicamente nacionalista (tão longe da realidade, mas não o são todos?), o espaço é constantemente descrito e, através das descrições, as emoções do narrador vão-nos sendo passadas. Dele saberemos pouco, porque também não há muito para saber. É esse o preço da repressão da individualidade. Esse e o desamparo que se sente quando se vê privado daquilo que sempre se tivera como certo. E então, “quando nada mais existe – porque nada mais existe -, caminhar para onde nada existe.”

Gosto sobretudo do último texto. Depois da contenção, uma enxurrada de emoções, o pedido de perdão de quem, em frases entrecortadas, tem como último destino a floresta dos suicídios. Tanta coisa dita em tão poucas palavras.

Se “GKJMA” tem um defeito é o saber-nos a pouco. Queremos mais, visitar outras memórias, conhecer novos lugares, perder-nos na fluidez de uma escrita económica, que procura constantemente a perfeição.

Um livro editado pela Artefacto, em que a qualidade da escrita é igualada pelas misteriosas ilustrações de Rita Faia.

Classificação: 15/20

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